"Vou-me embora, vou-me embora ... Eu aqui volto mais não ... Vou morar no infinito ... E virar constelação” (Portela, Samba Enredo 1975 - - Macunaíma

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Iracema e Macunaíma

No Roteiro de Macunaíma há diversas relações de semelhança entre Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, e Iracema. Entre essas destacam-se as semelhanças entre as personagens de Iracema e de Ci, a mãe do mato: "Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza" (M.A.) -- "Todas as noites a esposa perfumava seu corpo e a alva rede, para que o amor do guerreiro se deleitasse nela (J. A.). É a rede de cabelos que torna a Mãe do Mato inesquecível, e é uma rede que Iracema oferece ao guerreiro branco: --” Guerreiro que levas o sono de meus olhos, leva a minha rede também. Quando nela dormires, falem em tua alma os sonhos de Iracema “(J.A.) Ambas… não têm leite. O de Ci foi a cobra preta que sugou; em Iracema o leite não chegava ao seio, diluído nas lágrimas de saudade. "A jovem mãe suspendeu o filho à teta; mas a boca infantil não emudeceu. O leite escasso não apojava o peito “(J. A.). Em Macunaíma, o filho do herói” chupou o peito da mãe no outro dia, chupou mais, deu um suspiro envenenado e morreu “. Por outro lado, as oposições prevalecem desde o nascimento de ambos os personagens, foto observado nos trechos a seguir: "No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.” “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.” Essas diferenças são justificadas pelos estilos literários diferentes utilizados para as realizações das Obras. Em Macunaíma, Mario de Andrade usa o nacionalismo crítico, sem xenofobia, concretizando as propostas do movimento da Antropofagia (1928), criado por Oswald de Andrade, que buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem de fora, mas consumir aquilo que há de bom na arte estrangeira. Não evitá-la, mas, como um antropófago, comer o que mereça ser comido. Já José de Alencar, com seu romantismo descreve Iracema como a índia idealizada, exagerando nas suas qualidades e sem nenhum defeito, além da exploração do vocabulário indígena no português falado no Brasil.

By Jessica Blenda

Um comentário:

Leandro disse...

Interessante comentário....
seria de elencar mais coisas... algo que achei interessante foi os espaçoes que a Iracema cruza, em Macunaíma há essa "liberdade" de movimentos no espaço geográfico. Única diferença é que Iracema transita em uma região cearense, Macunaíma é no Brasil todo.

Interessante notar a tristeza dos personagens no fim dos romances....